28 de abril de 2013 – 4:20 am
Um bem-te-vi pousa na caneleira.
Quisera tu poder dizer o que sentes,
mas, vazio de sentidos,
limita-te a ver a ave pousada
e a ouvir seus gritos
que não decifras.
Teu silêncio abre caminho
entre a luz;
Refletido pelas folhas,
pequenos sóis gritando “bem-te-vi”.
Teu silêncio é denso e sem sentido
e num átimo a ave o percebe
e alça voo até outro paradeiro.
Ficam as folhas e seus sóis agora quietos
acompanhando teu silêncio.
Pedro Luiz Da Cas Viegas
Gravataí, 12/01-28/04/ 2013.
21 de abril de 2013 – 5:21 am
Minha nova casa
na garganta de Mengcheng
onde velhas árvores
e salgueiros ainda resistem.
Quem nela vai morar,
quando eu me for?
Ah, preocupações vãs
com coisas tão passageiras!
-Wang Wei
21 de abril de 2013 – 4:56 am
Ao sul de meu rancho, ao norte,
por toda parte
chuva de primavera.
Dia após dia eu só enxergo
o voo das gaivotas.
Trilhas repletas de flores,
por que varrê-las?
E para vós, abro enfim
a porta de junco.
O mercado é longe,
e para o almoço
não tenho muita escolha.
Quanto à bebida,
a casa é pobre
e só posso vos oferecer
vinho rústico.
E se convidássemos meu vizinho
para se juntar a nós?
Vou até a cerca chamá-lo;
juntos acabaremos
com esse jarro de vinho.
– Du Fu
20 de abril de 2013 – 12:29 am
Não estou tranquilo. Passa o dia irremediavel.
Apesar dessa doçura, apesar dessa leveza
envolvente em tudo, ainda assim
não estou tranquilo.
Essa leveza de coisa que evapora. Essa doçura
dissolvida no silêncio.
Não estou tranquilo.
-É a vida que docemente se esvai como levíssimo incenso.
Pedro Luiz Da Cas Viegas
Gravataí, 14/03/2013 – 17/04/2013
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14 de abril de 2013 – 12:29 pm
Enquanto maceram-se os alimentos
Vão se ruminando os pensamentos
As azias que corroem
As idéias que corrompem
Regurgitam-se trituradas
As mais preciosas esperanças
II
Cavalo que sou
Macerei do melhor
E no fino manto relvado
Esterquei minhas abjeções
Asno que sou
Ponderei mais que o devido
E por vezes descobri tardiamente
O erro do caminho escolhido
III
Macerado, deglutido
Dia a dia ingerido
À mesa do tempo que passa
Repleta, farta dos eventos servidos
Macerófagos, todos juntos macerando
Revirando, remoendo, desfazendo a solidez
Devagar se esvai o sumo
Devagar se encontra o rumo
Macerófagos macerantes
Mastigam, trituram
Músculos, ossos
Folhas, fibras e sementes
Ruminam dúvidas, certezas e temores
Dilaceram as próprias esperanças
Num macerar sem sabores
Pedro Luiz Da Cas Viegas
Porto Alegre. Junho, 2001.
7 de abril de 2013 – 12:41 am
Você que acaba de chegar
do lugar onde nasci:
deve saber de tudo
o que acontece.
Por favor,
antes de partir,
viu se na frente da janela com a cortina de seda
a pequena ameixeira de inverno
já estava florida?
-Wang Wei