Enquanto maceram-se os alimentos
Vão se ruminando os pensamentos
As azias que corroem
As idéias que corrompem
Regurgitam-se trituradas
As mais preciosas esperanças
II
Cavalo que sou
Macerei do melhor
E no fino manto relvado
Esterquei minhas abjeções
Asno que sou
Ponderei mais que o devido
E por vezes descobri tardiamente
O erro do caminho escolhido
III
Macerado, deglutido
Dia a dia ingerido
À mesa do tempo que passa
Repleta, farta dos eventos servidos
Macerófagos, todos juntos macerando
Revirando, remoendo, desfazendo a solidez
Devagar se esvai o sumo
Devagar se encontra o rumo
Macerófagos macerantes
Mastigam, trituram
Músculos, ossos
Folhas, fibras e sementes
Ruminam dúvidas, certezas e temores
Dilaceram as próprias esperanças
Num macerar sem sabores
Pedro Luiz Da Cas Viegas
Porto Alegre. Junho, 2001.