Arquivos de tags: poesia

Arrasa-me

Pesquiso, busco,
brusco, preciso
Rastreio em banda larga
Rastreio meu rastro estreito
Desconectado mesmo pesquiso
A razão destas fases
Tantas fases de fases
Pesquiso as tuas
E ouço adentro ouvido
Tuas frases, teu contato
E pesquiso, busco, penso
O sentido que me fazes
A falta que me trazes
Contata-me
E então me arrases

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Porto Alegre, maio, 2004

Amoramaro

A mordo amor
Com todos dentes
Dentes cheios,
Damor tecidos
Carnes amornas,
Carnes, sentes?
Abandonado amorfismo dos sentidos
Ameno amar
Amarameno
Amor amaro
Amargo destilado dos desejos

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Porto Alegre, 20/02/2003

Eternos

Plástico, concreto, asfalto,
Fibra de vidro, velhas estrelas.
O céu está quieto.
Ebulem dias no outro lado do mundo.
Ainda ouço os latidos de outrora.
Os velhos latidos
Agora são novos, os mesmos,
Eternos.

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Gravataí, 14/03/2012

Inspiração

Gota n’água que faltava.
Vertente de ver-te, reflexo
Concêntrico centrado que mira o foco.
Sabor difunde, cala, maltrata,
Encerra, engloba, mira flores famintas,
Enche bocas, palavras e versos.
Verbos em silêncios.
Versos em murmúrios.
Verbos em altíssonos.
Versos aos gritos
Emergem das águas profundas.
Algum leviatã inspirado.

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Gravataí, 09 – 11/08/2012

Composição

brotam coisas da terra
dando graças aos céus
o vento quer dizer algo
o zinco solto retruca

vento, poeira,
móveis cansados
concreto dormente
sussurram luzes perdidas

quadros desbotados
de palavras soltas
brotam bolores
destilados de horas

pedro luiz da cas viegas
porto alegre, 24 de outubro de 2004

Elixir

Meu mundinho paralelo.
Não conheço o que conheces
Não conheço tuas dores
Desculpa se sou distante.

Reconheço, sou disléxico
Para coisas de emoção
Mas tenho um coração
Que quer sair do letargo.

Quisera tomar um trago
De saudável elixir
De fazer brilhar a alma
Iluminando o existir.

Preciso de um ensejo
Preciso de um contato
Quem sabe com o seu beijo

Desperto, renovo de fato.
Ainda resta esperança
A vida é uma criança.

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Gravataí, 10 de agosto de 2012.

Endogenia I

enchi um pote com pedras
roladas lá da barranca
fiz o fogo na macega
e guardei a cinza branca

risquei teu nome na poeira
que se fez sobre a estante
rasguei a roupa na farpa
do aramado lá da estância

andei bastante, cansei
inútil tanta distância
sem onde se ter chegado

olhei o tigre e o urso
que nada sabem de reis
e o cachorro amigados

e vi ratos e baratas
lutando silenciosos
enchi um pote com pedras
de lugares preciosos

esperei tua resposta
sem que houvesse pergunta
lembrei dos meus bois da canga
e me fiz parte da junta

pedro luiz da cas viegas
porto alegre, 23 de oububro de 2004

Sede

Alma amiga,
Não sou um sensitivo,
Tampouco sinestésico.
Também procuro lenitivo,
Também procuro anestésico.
Mas, alma, por que voas longe
Por estes arrabaldes?

Cansaste dos teus sonhos,
Buscas novos ares.
Cheia de incertezas,
Anseias por altares.

Alma, por que vagar tão densa?
Deixes o teu peso como a nuvem
De boa e fecunda chuva
Sobre a terra que a aguarda.

Fiques, chovas em versos
O que sentes,
Faças do poema a vertente
De onde se sacia a sede,
Esta sede que sentimos.

Esta sede que cantamos.

Pedro Luiz Da Cas Viegas,
Gravataí, 22/07/2012

Segredo

Concha. Refúgio da ostra
Solidão nacarada
No seio do mar.

Ostra. Abraças, proteges,
A riqueza da tua dor.

Mergulharei nessas águas,
Buscarei teu segredo
Para que brilhes ao sol.

Pedro Luiz Da Cas Viegas.
Gravataí, 04-22/07/2012

Dança

Densa dança que condensa
Intensa chama desses passos
Tão leves quanto os olhares
Mais leves que os espaços.

As dimensões de um cosmos
Cria e trama em compassos.
Avança e traça segundos
Feitos de tons e matizes.

E nessa luz te encontro
Fazemos parte do drama.
Sou sua cor, movimento

E és tu que me conduzes
Por estes tempos que ardem
Entre risos, fogos e luzes.

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Gravataí, 10/07/2012

Ilha

Porção de mim
Cercado de teus cuidados
De todos os lados

Isolado do mundo
Esquecido de mim
Não mais te vejo ou ouço

Um mar vazio
Ou cheio de algo que nos é estranho
Ocupa o espaço que antes era somente teu

Precisamos de uma garrafa
E algumas mensagens
Para fazer uma grande travessia

E trazer de volta ao contato nossas orlas
E preencher com nossas vidas as águas desses mares

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Gravataí, 09/07/2012 – 20/07/2012

Tempo

O meu tempo
O teu tempo
Estas coisas imiscíveis
Nossos tempos impossíveis
Ocupando o mesmo espaço
Em uma fotografia
Passamos despercebidos
Nesta grande galeria
Que se encobre de poeira
O meu tempo
O teu tempo
Quem vai querer perder tempo
Prestando atenção a nós dois?

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Gravataí, 09/07/2012

Larva

diga ou cálice
beba revertendo
o sentido do verbo
verbo será vetor
sentido sem direção
quantas grandezas
guarda uma palavra
palavra, larva que vira
bicho de asas
esvoaçante na luz
ofuscante rebrilho da prata
de um cálice
cheio de um vinho
que bebo calado

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Porto Alegre –

Tergiversos

Oh minha paixão…
Não há como ser épico.
Meus versos, tergiversos,
Falam do vento,
Canções sem acordes,
Moinhos e giros,
Pipas no alto
Catando azul.

E, nos céus de Cabul
Ou qualquer cidade,
Que a brisa guarde
O segredo da flor
Que guardei para ti.

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Gravataí, 27/06/2012

Encontro

Brilham as caliandras na manhã pacífica.
A leve brisa não abala os insetos
Que procuram o doce néctar.
Fecho levemente os olhos ao sol
Para ver melhor você
Que me dá bom dia.
E então sorrimos
E cada um de nós
Segue sossegado
Seu caminho
De flor
Em flor.

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Gravataí, 23/06/2012

Minha fraca eterna chama

Brilha em tudo que se foi e permanece sendo.
Meu corpo-alma é todo brilho ao sentir teu som.
Sinto o frio e sinto o sol e assim estou mais desperto
E sinto mais a vida que por muito pouco esqueço.

Mesmo enquanto falas sem que eu te ouça,
Mesmo assim tão surdo e cego sinto:
Estás aqui, não há mais nenhum além.
E mudo. E ainda mais emudecido permaneço.

E sofro alegria por saber ser pequena parte tua
Contemplando tua obra de horrores e belezas.
E por um momento sou eterno na certeza

De que me tocas pelo ar, pela chuva e pelo pó da terra nua.
De que me falas pelas vozes das caladas multidões.
E que me ouves e manténs a minha alma, minha fraca chama acesa.

Pedro Luiz Da Cas Viegas    
Porto Alegre, 30/11/2004

Noção de tu e você

Mal me quer e já desiste. Sequer testaste tentando.
Vago senso, sentir nada. Talvez de quando em quando.
Palavra por palavra, pensada, face parada, mudez.
Cala e grita, credo nas cruzes, mas que bela palidez.

Não passe mal, eu só peço, nem tenha assim tanto medo.
Me reza e me chora e quem sabe me critica, tua boa intenção.
Me jura e fere e cura, me estraçalha inda hoje, cedo, cedo.
Mas nem agora nem depois, quem sabe quando, coração.

Um momento, aguarde, aguarde. Já não tarda.
Talvez morra dentro em pouco. Fosca, parda.
Vejo era que finda. Percebendo, percebendo.

São meus olhos ou é tudo que já some consumido?
É agora, já percebe? Inda estará me ouvindo?
Oh sim, a senha, a senha. Eu já ia esquecendo.

Pedro Luiz Da Cas Viegas. Porto Alegre, 26/11/2004

Chá de jasmim IV

O bom sangue corre nas veias.
Receias o mal que não conheces.
As preces como mantras garantidos.
Terás sido a melhor das que não tive.

Ourives das peças mais consagradas,
Te agradas saber que nada sei.
Qual lei fala de ser comum.
Humano, vacum, o fim é o mesmo.

A esmo, tudo matamos, bichos e gentes.
Lamentes, chores choros ensaiados.
Traçados os planos, o dia seguinte.
Pedintes, miséria, falta de sorte.

Ser forte, subir e descer o caminho.
Teu destino, grafado no pó deste vento.
Cada momento, que seja o elo faltante.
Errante, partícula percorre a massa vazia.

O avançar da idade sepulta a vontade abortada.
Desperta o grito no estertor da agonia.
Submerge a ilha nas vagas do mar,
Derivar, indeciso, em meio, ao longo, ao fim.

Telhados escondem estes mecanismos.
Esfregar fuligens das pratas.
Polir, enganando o tempo que passa.

Devir, apenas o fim que principia,
Conteúdo pulsante de um estojo de ossos.
Estrutura, treliça armada, cimento, ferrugem.

Granular natureza, discreta, finita.
O circuito fechado revela
A função das paredes.

De joelho ao pé da estátua.
Uma gota pintada na ferida de gesso.
Gestos de pedra.

Arte da dor.
Não há chá
Sem a morte da flor.

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Porto Alegre, 2002

Agora

Circulo em trânsito entretecido
Em diáspora plena de vício tenso.
Vejo amêndoas agridoces ao óleo
Do viço do seio farto
E Vênus ouvindo mar na concha,
Coaxos, martelos, velhos mantras.
A lacraia riscando a cambraia
E um pote cheio no decote pleno.
Há lua de nova luz,
Velha palidez na face do poeta
Que concebe um lampejo, um anjo, um fauno.
Quero um beijo, ouça e prove
E sinta a cada passo:
O astrolábio e as estrelas,
As pegadas e os caminhos
Canibais de cada dia
Que consomem os andares
Nos conduzem
A destinos destilados no futuro.
As paredes do agora,
Pedra sobre pedra
-Poliedro-
Definitivamente se consomem
Em poemas não escritos.

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Gravataí, 22 de junho de 2012

Reação

Seja o princípio
Ativo e perene
Absorvido no sistema.

Seja o sistema
Aflito e sereno
O contraste no seu corpo.

Sejam nossos corpos
Conteúdo e continente,
Reação e reagentes.

Amalgamados seremos.
O princípio transmutado,
O desejado equilíbrio.

Pedro LDC Viegas
Gravataí, 04/05/2012

Tua chama

Carnes em bocas ávidas,
Pétalas em água cálida,
Sumos de frutas grávidas,
Dragão sobre a pele pálida.
Suspenso em arco voltaico
Lanço palavras ao vácuo
E não me faço ouvir.
Apenas a Lua lê meus lábios
E permanece muda.
Fina seda plástica encobre tua pele
E a brisa não existe sem teu toque.
Pendem vitoriosos astros envelhecendo tua memória.
Louvada sejas enquanto brilhes em mim
E apague-se com o meu próprio olvido
Tua chama.

Pedro Luiz Da Cas Viegas
Porto Alegre, 16/06/2012

Meditativo

Queria ser centro e sou esquecido.
Sou centro onde queria estar incógnito.
Sirva-se. As frutas estão frescas, orvalhadas
da manhã.
Sumarentas doces frutas.
Doces e delicadas peles que te envolvem.
Serena assim serena a fitar o doce
lume da manhã
que se insinua.
Teu corpo delicado dentre a bruma.
Provemos do pomar
sobre a relva inda molhada.
Seus pés nus o que temer
na relva fresca e fina.
Venha entre estas alamedas
por onde vago e se
sozinho eu me perco.
É doce o rico sumo das
frutas do pomar.
Prove.
Tome de minha boca
o sumo dessa fruta.
Dividamos.
E sobre a relva esqueçamos
olhando o céu que nos protege,
sentindo a brisa que me traz teu cheiro.
Tu és presente.
Sinto presente para a vida.
Serei eu digno de que proves
dos pomares nos quais me perco?
Dos pomares que plantei na minha mente?

Pedro Viegas
Porto Alegre, Setembro 2001

Angra


Atomímica bombatômica
No deca serão fogos
Fogos de arte físsil
Nos céus de artifício
De cobalto e plutônio
Dos lixões das Angras
-Digas, povo, por que sangras?

Pedro Luiz Da Cas Viegas
30/06/02
(Edição de 03 de junho 2012)

Mimos em rimas


Mimos,
Meus mimos,
Mimos meus,
Quem me mima mais
É Deus,
Por permitir que eu viva
E aprenda a desmimar,
E quando for desmimado,
Novo monstro então criado,
Vou ensinar que o mimo
É util em versos que rimo
Por saber aproveitar
Punhaladas deste mundo
Que nada têm de mimosas
E fazem as rimas rançosas
De tanto mimar infecundo.

Pedro Viegas
Porto Alegre, 27/abril/2003

Lentes


Se ao mirado o infinito revela
Um rosário de eras que findas
Nos chegam a cansadas retinas
Como pontos num vazio que impera,

Que dizer destes olhos que miram
Desta terra, nada mais que um grão
De poeira, nebulosas que giram,
Pelo cristal desta lente, esta escuridão?

Destes olhos do mesmo pó oriundos
De distanciadas eras, momentos, segundos
A fluírem na luz, nestes mecanismos,
Destas janelas perplexas diante do abismo…

Pedro LDC Viegas
Porto Alegre, 6-8 de novembro de 2001

Multidão

Multidão

E então alguém diz
-O que vais fazer agora?
E outra voz responde
-Não sei para onde ir.
Sou muitos neste corpo só.

Pedro LDC Viegas
Porto Alegre, maio 2002

Miopia

Vejo as flores da paineira
Como tela impressionista.
Um borrão desta janela;
Minha lente ilusionista.

Pintura que os meus olhos
Criam, assim, à distância
Ao transformarem beleza
Em colorida aberrância.

Transformo, pois, em poema
As distorções deste dia
Para não se tornar em pena
O peso desta miopia.

Porto Alegre, 03 de abril – 01 de junho de 2012

Barro


Eu vejo a terra
E vejo tristeza.
Terra molhada de chuva,
Tristeza molhada de chuva.
Suja tristeza da terra.
A vejo triste de chuva.
A vejo chuva de terra.
Triste, vejo o que vejo:
É seca a terra em mim
E falta água que em barro
Molde uma alma, enfim.

Pedro Viegas
Porto Alegre, maio / 2002

Doce ciranda (Eclipse)

Doce ciranda nossa.
Satelizo-me ao teu ser,
Perfaço no teu entorno minha órbita,
Meu trajeto no espaço duma vida .
Me eclipsas e aceitas atrativa,
Emanas teu raiar, ofusca e guia
Minha eterna idavolta em torno teu.
E já perdi minha luz própria.

Chá de jasmim III

Primeiro gole

Calêndulas floridas
Campo grosseiro
Caçador de milagres
Cachorro mateiro

Trilha dos passos
Amassa a ramagem
A picada tem fim
Inicia a viagem

Segundo gole

A marca na casca
A seiva que escorre
Na mata, na lasca,
Na vida que morre

Na folha, no caule,
Nos veios da terra
Na carne ferida,
Nos campos de guerra

Terceiro gole

Despenca o rochedo
Floresce o juá
Espinhos no couro
Saudades de lá

Ossinhos no solo
Solar solidão
O céu está nu
As nuvens se vão

Último gole

Flores na pedra
Suave rudeza
Estrelas de quinta
Primeira grandeza

Noite de cima
Na beira do rio
Corisco no escuro
Brilhar fugidio

O que foi já não volta
O ciclo sem fim
O viver que revolta
-Meu chá de jasmim!

Pedro Viegas
5 outubro 2002

Via Crucis

Rua larga.
Pavimento percorrido.
Passos, sussurros, agitação.
Esquecimento no caos de mil solados.
Almas pisadas enegrecidas na fuligem,
Pavimento desgastado;
Pressa, desespero, calma indiferente
Convivem no mesmo fluxo.

Marquises,
Último refúgio,
Observatório da luta:
Mil passantes determinados,
Rumos difusos em mil trajetos
Nos labirintos de concreto.
Olhar perdido no rio caótico
Feito de olhares perdidos em incerto rumo.

Passos incertos,
Duvidosas esperanças.
O meio fio atulhado.
Detritos no esquecimento
Aguardam o destino do descarte.
O pavimento sempre renovado,
As certezas nunca comprovadas.

Via Crucis de miríades.
Sísifus cumprindo o destino.
A carga é pesada .

Porto Alegre, 2001

Ouço

Ouço.
Transporto-me para onde não conheço.
Vejo.
Estou onde sempre estive.
Penso.
Acordado é melhor sonhar.

Retilineamentos

Preciso continuar nesta linha.
Atesto o desconcerto na brandura calma,
Diafanar de dia findo, tepidez parada,
Luas vazias e mancheias,
Quanto custa, quanto custa.

Giro não é sério sem eixo
Imaginário ou feito de algo.
Bonecos ou não, deixam um espaço
Entre aqui e ali.
E parece haver um caminho ou mais
De uma saída.
Ao menos.

Deambulo

Deambulo plenamente
No amplexo do concreto.
No ar semirevolto
Tepidez de plenilúnio

Chão de ruas sujas,
Sarjetares de infortúnio.
Cresce a pressa.
Passos adensados no trajeto.

Confluem vistas para o ponto.
Vago em vias.

Indecorosa

Flor na minha tela
Indecorosa
Mente delicada
Pensa flora
Enquanto a miro tenso

Fina palidez
A imagino
Coisa nova, tez do pêssego

Então a despetalo
Na minha retina

Gravataí 01/03/2012